domingo, novembro 23, 2014

Novembro Branco

Eu tinha acabado de sair de uma noite muito louca com os amigos. Sem fazer a menor ideia do que tinha acontecido. Jamais poderei te dizer o quanto eu bebi naquela noite, já que eu não me lembro. Não me lembro se consumi outras drogas – mesmo que tivesse, jamais assumiria –, não me lembro se dancei com caras ou com garotas, não me lembro se eu pensei em você. Eu já não consigo lembrar se sou capaz de pensar um pouco mais em mim.

Eu me sentei no meio fio da rua e olhei para o céu. Meus amigos riram e seguiram seus caminhos, junto com os estranhos que me encaravam sem entender o que eu estava fazendo. Volta e meia alguém me oferecia ajuda, mas não sei se era disso que eu precisava.

Estamos em novembro, não é? Foi a única coisa que eu consegui pensar na hora. Eu sentia frio, mesmo com o sol nascendo forte. Meus lábios tremiam e eu continuava olhando para o céu. Eu não esperava encontrar nada ali, mas precisava de uma direção. Eu não sabia para onde ir.

Eis que cada nuvem se transformou em uma memória. Algumas nuvens pareciam tempestades. Nuvens que eu nunca mais quero ver na minha vida. Me senti mal por lembrar dessas coisas. Também havia nuvens coloridas. Elas sorriam pra mim e eu pude reconhecer cada sorriso e cada nuvem me levou ao momento em que fiz cada nuvem sorrir.

Só então eu consegui entender que o inverno era interno. Somente eu estava sentindo aquele frio. Era saudade, mágoa, solidão, tristeza, desgosto, descaso, inveja, esquecimento e superação – mesmo que em andamento-. Por Deus, o que eu estava fazendo naquela neve? Eu me levantei e comecei a correr.

As nuvens se transformaram em estrelas. E foi então que a tempestade começou. Eu não sabia para onde estava indo! Eu só conseguia correr e cobrir o rosto para não enxergar as estrelas sorridentes caindo e explodindo em todo lugar. Cada sorriso, cada lembrança, cada memória, cada esperança estava se despedaçando na minha frente e a neve começava a dificultar meus passos. Eu comecei a afundar e a pedir ajuda. Eu fechei os olhos, me agachei e comecei a tremer.

Não vou mentir, eu não queria a sua ajuda. Eu não queria ajuda de ninguém. Você tinha um guarda chuva em mãos e afastou toda a neve que me cercava. Abriu o guarda chuva e me protegeu daquela chuva de memórias. Eu te olhei e você não sorria para mim. Me colocou de pé, me deu o guarda chuva e me perguntou:

- Se sente bem, Luiz?

E eu te respondi:

- Vou me sentir melhor quando o inverno acabar.

Você, sorrindo sem mostrar um único dente, me indicou um caminho. Eu comecei a segui-lo. As nuvens iam sumindo a cada passo, até que só me restou o sol. Cada cores deixadas pelas quedas das estrelas se transformaram em manchas brancas como sorrisos e eu pude ver que – eu ria nessa hora – eram permanentes. Eu jamais voltaria a esquecer.

E então eu entendi. Novembro era mancha branca de memórias alternativas. A escolha de me proteger era um pensamento válido, mas só funcionaria se você conseguisse enxergar os problemas caindo, sem se afogar neles.


Então, Novembro Branco, obrigado pela noite! Mas, não fique triste, voltaremos a nos ver quando acabar esse novo verão. Meus amigos estavam me esperando na estação e fomos embora com muitas lembranças daquela noite. A maior delas, era você, fazendo falta. 

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